Um dia foi todo nublado e tudo estava cinza, E o céu já reiniciava a ficar limpo, como é de costume na cidade. Chove...chove bem pela manhã, abre no fim da tarde.
Preguiçosamente, caminhava pela avenida que descia à praia, uma daquelas três que desce à Beira Mar.
Surpreendentemente, ia no meio da via e não havia trânsito.
Parecia andar sem muita consistência, até ver a menina com que nunca casei mesmo. Queria-a tanto, mas não deixei nunca esse desejo ir além de um segredo meu. Afinal, era linda demais pro meu estilo, um pouco evasivo, um pouco opaco.
Na época, tinha 12 anos. Hoje, já tenho bem mais. E mesmo assim, hesitei em ir falar com ela. Só que nossos olhares encontraram-se, naquela posição em que é impossível não cumprimentar.
Ah, ela continua com um sorriso estarrecedor. Morena, com ar africano meio europeu, divertida no andar, uns braço bem desenhados e a cintura mais bem feita já vista. Nariz afilado, a completar com os olhos em simetria e bem femininos...um leve puxado para os cantos.
Sentamos, bem no meio da ladeira. Como se houvesse movimento algum. Isso que me intrigou verdadeiramente.
Falamos ao mesmo tempo: "senta aqui". E sentávamos, no modo automático. Começamos a contar a nossa vida e ríamos como se estivéssemos a tapear o mundo.
Tapeávamos, porque saímos a enganar a todos...todos pensavam que nós nos deixamos no passado, quando na verdade, fizemos esse amor secreto tornar-se algo maior do que o mundo.
Ora, ora. A conversa ia demorando, tínhamos que nos despedir. E uma súbita melancolia foi naqueles dois beijos de cada lado do rosto...
No fim de tudo, quem nós tapeávamos era a nós mesmos. Devíamos ter feito este amor juvenil, algum dia, tornar-se realidade. E rimos de modo que não tenhamos que lamentar isso.
As saudades de trazer tudo o que não vivemos e ter que imaginar como seríamos o que nunca fomos...
Eu abracei-a mais forte e ela também. De repente, nada aconteceu.
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