domingo, 2 de dezembro de 2012

Enquanto olhava no espelho, as barbas postiças que vestia meio sujas, meio esbranquecidas pela poeira do palco. Assistia nos olhos que fitava um orgulho pequeno. Estava ali parado. Apenas olhando para os seus próprios olhos, sem ter o que pensar. Apenas olhando...
A noite terminava silenciosa naquela espécie de camarim montado atrás das lojas do shopping. A sua figuração havia sido qualquer coisa dentro do padrão, da qual orgulha-se pouco. Nada se diz, vai de um lado ao outro e pronto, está feita a sua atuação. Agora, deveria tirar as tais barbas que colocava no rosto. Postiças sim, pois não aguentou duas semanas com a barba real tapando o seu rosto.
De alguma forma, ter aquelas barbas postiças causou o sentimento contrário. Parecia que se as tirasse, não seria mais quem queria ser. Havia medo.
Porém, tirou-as. E o que viu foi a verdade. As barbas já não vestiam tão bem. Tinha certa razão por não esconder as faces atrás de barbas... reais ou postiças.
Com as faces expostas, acabava a proteção do anonimato. Agora, com as faces limpas e livres era quem sempre sonhou ser.
Eis que fitava. Fitava sem pensar até vir a frase que calou ainda mais o silêncio: "Eis aqui um homem verdadeiro". E o silêncio reinou como um cataclismo!
No dia seguinte, na mesma hora, a cena se repetiu. E no outro e no outro... até a peça sair de cartaz. Quando saiu, era já um homem diferente. Um novo, porém mais velho. Um homem mais sábio, então. Seguiu, a partir daí, com prudência e honestidade, sempre guardada como um cofre com segredo. Sem nenhum orgulho ou charlatanismo, era prudente e honesto por ser a sua essência. Um homem com verdade nas faces.

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