sábado, 17 de setembro de 2011

Eu não tenho talento

Eu não tenho talento, isto que tu vê em mim é apenas o que tu vê em mim. Aplauda, pois a minha carência é única. Todo o mundo parece ter. Ter este tal de talento. Esse destaque em qualquer coisa que faz. Eu?
Não, não tenho. A atual conjuntura dos parâmetros ocidentais e da excelência do banal, do padronizado, deste ter que fazer o que sempre se fez... eu não tenho.
Fujo do padrão. Fecho-me em uma filosofia vã e sem nexo. A minha visão do mundo é totalmente o contrário de tudo, e ainda quando vejo alguém que compartilha do meu mesmo sentimento, não me identifico. E finjo não ser bem parecido com este alguém.
Mas, na verdade, dizia que não tenho talento. Acabo de receber um e-mail com todas as correções que devo fazer, com a nota padrão que devo receber pelo que fiz. Eu verifico que todo o trabalho que tive, nada tem a acrescentar. Ainda que tenha tido tanto tempo nele, tanta energia, tanta vontade em fazê-lo. Um sujeito lê em dois dias e diz-me tudo em uma nota, em um comentário polido e detalhista. Sem pouca razão, cheio de coisas minúsculas [das quais, nem havia reparado, quando julguei ter feito uma obra-prima], ignorando todo o meu contentamento quando fiz. É que devo transparecer não querer, segundo ele me conta. Vem e me conta em 15 linhas, tudo o que mereço da atenção do mundo. Eu o traduzo: não tenho talento.

Convite

Um bilhete deixado na porta da geladeira da casa dos 3 [de sempre]:
"Caros Maranhão e Cascável, convido-vos para um jantar neste restaurante, eu queria muito que vocês conhecessem duas pessoas importantes na minha vida."

Mandado o mesmo texto para o celular de ambos. Os dois, confirmaram. Meio desconfiados. Apesar de falar demais, o Tito nunca havia apresentado qualquer amigo.
Chegaram no local combinado. Estava o Tito à mesa para 4 pessoas, só. Depois das devidas saudações, Maranhão pergunta:
- Estão chegando?
Tito responde:
- Acabaram de chegar.
Cascavel:
- Cadê?
Tito:
- Estão na minha frente, procurando a si mesmos.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Oh, Lívia

Quando saí, meu time perdia por 1-0, fora de casa.
E, por mais uma teimosia insensata [há quem defenda que os teimosos têm razão], fui te procurar.
Não me venço. Sempre a querer.
Na tua casa, não estava.
Na tua rua, não estava.
No teu bairro, que agora é perto de onde moro. Perto da praia também.
Mas, tu não estava.
Fui, então, nos lugares que tu costumava ir. Não estava.
Retornei, a partida terminada, 2-1, um gol antológico!
Concluí que não devia ter saído daqui. Acho que perdi a melhor parte.

sábado, 3 de setembro de 2011

Voltei

Veja que coisa: quando viajava, sentia falta de casa.
Agora, que em casa estou, não me sinto verdadeiramente em casa.
Que falta faz o tempo que fiquei fora. Sem ter que obedecer a uma rotina mesquinha e fria. Falta da língua estrangeira, dos costumes nada a ver das outras terras com a nossa.
Apesar desta ilha ser tão aconchegante, tenho, por uma incrível ironia da vida, vontade de ir embora outra vez. Os mesmos amigos e as mesmas novidades. Nem parecem ter sentido a minha ausência, o que não parece ser também muita verdade.
Pode ser que seja este clima tropical. Essa... esse... calor estúpido! E que me fazia tanta falta quando estive no alto daquela montanha africana.
Talvez, por causa do som das palmeiras balançando com o vento ou desta praia interminável e pequena, toda uma nação! Mas, que me matava de orgulho quando estive na Índia, numa confusão de pessoas e carros e bois... qual barulho! Meu Deus!
Ou, talvez, porque não me prendo mais em lugar algum. Mesmo ficando bastante tempo a olhar pela janela o mundo passar, em todos os locais que fui.
Voltei, sem vontade de ficar, e sim,com a ânsia de simplesmente voltar. Não pertenço mais a este lugar... acho que vou embora de novo.