Antenor era um sujeito tenaz. Todas as suas coisas tinham certa convicção. Muitas delas, faziam algum sentido, como a cor azul marinho da gravata, a mariscada da Tia Joana e o Wood Allen. Não discutia muito, gostava de dizer do que queria. Seus amigos sempre gostaram da sua companhia.
Tinha apenas uma convicção que causava estranheza. O Antenor tinha peculiaridade, sempre queria ficar no lado esquerdo. Sempre. Não havia um argumento produtivo, contudo...
Escrevia com a mão esquerda. No time da sala, era o ponteiro... esquerdo. Quando cresceu a sua ideologia ficou clara, esquerdista. Sempre ultrapassava pela esquerda, nesse ponto, devo confessar, seguia a norma de trânsito comum no ocidente. Porém, o mais esquisito era ele ter que enfatizar isso, sempre que iam ao cinema, ele já anunciava:
- Eu fico à esquerda!
Todos não levavam tão à sério. Talvez, se ele não falasse, já naturalmente isso aconteceria. Ele ficaria à esquerda.
Certo dia, uma grande cantora internacional visitou a cidade. Ele objetou o seu lugar para acompanhar. Joaquina, uma daquelas jovens loiras estonteantes com tez metade sueca metade russa, uma conhecida, não tão amiga assim. Conhecida, de andar de vez em quando com a mesma turma do Antenor, por ser amiga da Aninha, prima do Guto, amigo do lado esquerdo de Antenor. Joaquina não era tão questionadora. Mas, ao ver que aquela intrigante e convicta afirmação, ficou incomodada.
Comprados os assentos, devidamente do lado esquerdo. Iam lá, além de Antenor e Joaquina, o próprio Guto, a Aninha, Manuela e Otávio, mais outros que não convém lembrar-lhes os nomes. Antes de começar o show e já com as bebidas em mãos, a festa já tinha um ar de festa. Iriam ver uma apresentação internacional!
Num dado momento Joaquina reparou outra vez o Antenor se vangloriando de estar no lado esquerdo da platéia e de como era muito melhor. Intrigada, a loira voltou os olhos para o palco, o mestre de cerimônias agitava o público que enchia o pavilhão de concertos. Continuava a pensar. A pergunta lhe veio, como um dardo diretamente chegando no alvo, olhou novamente para o Antenor:
- Sabes que vamos ficar no canto direito do campo de visão da artista, não é?
Antenor não havia pensado nisso. Joaquina voltou o olhar para o palco, apontou e artista entrou. Começava o show internacional.
quarta-feira, 23 de maio de 2012
sexta-feira, 11 de maio de 2012
A vida em 24h
Fui concebido um pouco depois da meia noite. Até às 6 da manhã, não sabia eu que estava vivo, contudo já consideravam-me um ser, mimando-me como tal. Às 7, era criança e andava, corria e caía. Às 8, nem cuidava que um dia os meus ossos poderiam quebrar com uma queda ou o queixo abrir-se dolorosamente... aprendi a chorar de dor. Logo às 9, desafiava a vida e entrava na escola. Mal podia me ver crescendo e ao meio dia, depois de aprender todas as operações matemáticas, leis químicas e físicas, todo o reino das plantas e a ler e a escrever como ninguém mais utiliza o português, tive que parar para almoçar, ao mesmo tempo em que escolhia a profissão que ia seguir na vida. Às 13 horas, junto com a faculdade, encontrei a garota por qual me apaixonaria e casaria com ela às 15. Não sem antes ter duas horas de duras provações e também prazerosas noites. Mal podia enxergar o fim de tarde, enquanto me ocupava em fazer crescer a minha família. Às 17, já tinha dois filhos e um emprego há tempos, que me macerava. Às 18, no alvorecer, a vida já não tinha a empolgação anterior de outras horas. Tinha, sim, as conquistas de meus filhos e a velhice a bater a porta na hora do jantar. Eram 19 horas, quando soube que meu pai morria, meia hora depois, morriam meu sogro e mãe, e, às 21, de tanta tristeza, partia a minha sogra. Descobri-me, às 22 horas, cansado demais para continuar o trabalho no dia posterior e pedi minha aposentadoria. Às 20, devo mencionar, vi um de meus filhos casar-se e separar, o outro já casava e me fazia avô. Num espaço de quinze minutos, me encantei com meu neto... e aceitei que já não tardava e meu dia ia chegar ao fim. Três horas depois de estar com meu neto no quintal de casa, estaria na cama. Minha esposa já não acordaria mais e dormia numa tranquilidade inabalável. Apaguei a última luz do quarto e respirei pela última vez no dia...
terça-feira, 1 de maio de 2012
Os outros
Já me disseram não ligarem para os outros.
Que se preocupar com o que os outros dizem de nós,
é senão pura perda de tempo.
Eu me preocupo com o que os dizem de mim.
Afinal, o que sou para o mundo é o que ele pensa de mim.
Eu tento, não em vão, criar uma figura minha
e somente minha?
Não.
O que faço e quero
faço e quero que os outros compreendam e digam
o mesmo que eu penso de mim mesmo.
Não é ser leviano preocupar-se com a opinião dos outros,
Vivemos preocupados uns com os outros
e conosco também.
Importe-se com que os outros dizem de ti,
se for mentira, trate de desmentir de forma categórica.
A tua imagem perante o mundo, por mais contra isso que sejas,
é a imagem que o mundo vê de ti.
Faça-te claro, então.
Que se preocupar com o que os outros dizem de nós,
é senão pura perda de tempo.
Eu me preocupo com o que os dizem de mim.
Afinal, o que sou para o mundo é o que ele pensa de mim.
Eu tento, não em vão, criar uma figura minha
e somente minha?
Não.
O que faço e quero
faço e quero que os outros compreendam e digam
o mesmo que eu penso de mim mesmo.
Não é ser leviano preocupar-se com a opinião dos outros,
Vivemos preocupados uns com os outros
e conosco também.
Importe-se com que os outros dizem de ti,
se for mentira, trate de desmentir de forma categórica.
A tua imagem perante o mundo, por mais contra isso que sejas,
é a imagem que o mundo vê de ti.
Faça-te claro, então.
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