terça-feira, 3 de maio de 2011

Simão e Lívia

A cidade acabava numa rua, que se tornava uma estrada. Esta era bem escura. De uma estação de energia, faiscava uns raios para o meio dela, um perigo. Tu mantinha o passo e corria pra lá, como se aquilo fosse a estrada mais segura. Era a mais escura, iluminada pelos raios de um transformador.
Eu gritei: "Lívia!", tu continuou.
Eu gritei, outra vez, mais alto: "Lívia! Volta aqui." Tu continuou.
Na terceira vez, gritei hesitante...foi quando tu parou e olhou pra trás. Tirou os fones do ouvido, olhou pra mim com estarrecimento, a uns cem metros de vantagem.
"Ainda me segue, Azevedo?", tu me perguntou.
E eu respondi com as águas nos olhos, daquela chuva que agora caía, respondi com um titubear e sem sair voz alguma. Tu virou-se pra estrada escura e continuou a correr placidamente a passos firmes.
Desta vez, não fiquei parado, mas olhei pra trás ainda. E, quando olhei pra frente novamente, praquela estrada, nem via mais algum sinal. Esperei o relampejar do transformador. Não te via mais. E entrei na estrada sem temor algum, agora. Corri, com uma força acima do normal.
Corri até amanhecer e quando vi, nem controlava mais os meus passos. A estrada, antes escura e insegura, mostrava-se linda, como numa beira destas que amanhece depois de chover, um sol preguiçoso e a vida a acordar. Eu corria e via tudo, só não te via e isso me fazia apressar o passo...

...não te vi mais.

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