"Simão e Lívia"
Voltava, então, de onde percorri a madrugada toda. Com a derrota estampada na face, com a fadiga, com reação à nada. Com a última frase a repetir: "...eu não te vi mais".
A manhã já estava diferente e a calma da aurora dava lugar ao calor angustiante. De repente, vi-me como meus personagens, minhas imagens, meus sonhos...presos ao nada. Sem passado e nem futuro.
Seguia, sem pressa até o ponto de onde comecei. E como andei! Ah, pois sim.
Ao chegar na cidade, dois minutos antes da hora do almoço, naquela mesma entrada que tu me fazia a pergunta perplexa, havia uma aglomeração. O transformador desistiu e fez o asfalto ficar mais negro ainda com as marcas das explosões de ontem pra hoje.
Eu via sem olhar. Fitava os semblantes horrorizados, os semblantes horríveis que dá-se a qualquer aglomeração, qualquer motim e revolução. Ah, desgostava de todos. É como se todos fossem culpados da minha fadiga.
Toda aquela adrenalina da madrugada anterior, naquela sensação de te ver e poder ir te ver, tudo aquilo desvanecia. Sentia uma culpa de algo que não sabia o que era, julguei-me culpado. Todos os passos que me faziam voar pela madrugada, nesta manhã, faziam arrastar-me numa lentidão infinita.
Alguém me viu e comentou algo. Ouvi meu nome soar baixo por entre todos. Com o S acentuado. Eu continuava com uma firmeza sem muita consistência, era com o olhar voltado para baixo e o cansaço a me fazer repetir a última frase...
"...não te vejo mais."
Sem comentários:
Enviar um comentário