quarta-feira, 29 de junho de 2011

De que me vale amar por uma vida toda, sem ao menos nunca odiar alguém?
Pra ver que, de fato, o amor é o melhor caminho.
Caminho que leva-nos aonde?
De que me vale saber agora?
De que me valerá os anos que vem?
Venham! Todos os anos!
Pra que eu acerte e erre.
Ame e odeie. Diga e desdiga.
Pra que eu viva e saiba o que é viver!

terça-feira, 28 de junho de 2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O perdão e a loucura

Ao amigo Mascarenhas,

Saí da ilha, fiquei uns tempos no Senegal. Procurando-a. A minha ilha querida de toda a vida. Quando achei, tudo que tive foi uma mensagem: "Viva, Simão! Viva!". Percebi o quanto incomoda esta idolatria.
Precisava, então, sair do Senegal, não voltar à ilha querida e deixar São Tomé no passado.
Perambulei. Passei pelos dois desertos deste grande continente até chegar numa montanha enorme, onde parece ser mais frio que Londres, a qual chamam-na de Lesoto. Nunca havia escutado falar deste país. Saí de lá, o frio não me apetece. Fui um pouco mais ao sul...
Serpenteei as mais perigosas trilhas e deparei-me com um enorme rinoceronte. Não fazes ideia da magnitude desta besta.
Visitei o cabo. O lugar dos nossos herois. O lugar onde fui às lágrimas. Aquele lugar que tanto ceifou vidas sedentas por descobertas em nome del rei, em nome de Portugal, e, acima de tudo, em nome da humanidade!
Desisti do continente, voltei à ilha. Mas, uma nova ilha, Madagascar. Não entendo muito das coisas que são belas e nem sei se há um critério para estratificá-las, mas é decerto o lugar mais belo da terra.
Vem chegando a minha data, o meu novo ano chega. Vou a 36 e sinto-me ir pra além mais. Não sei quando envelheci e se, de fato, estou velho. Só não me sinto mais naquela juventude aventureira. Mesmo que esteja a andar por aí.
Acho que paro nesta ilha por uns dias. Tenho a melhor vista do mundo quando olho no horizonte! Estou tentando seguir à risca a mensagem de quem sempre amei. Nada acontece no novo sem eu perceber direito.
Estou entre o perdão e a loucura. Perdoo a quem me magoou profundamente, não havia maldade naquilo. Perdoo, pois já não há rancor, que vale nada.
É só a loucura que não me deixa acomodar, afinal, o que sou pra ela nesse instante? O que ela é pra mim? Aquela ilha deixava-me parvamente louco, com certa lucidez lunática. Fui...
Vou viver, Mascarenhas, acho que está na hora d'algo acontecer na minha vida. Começo a repensar aquela minha teoria de que na vida nada acontece. E não sou mais aquela perda de tempo. Tenho vontade de crescer, produzir e aprender. Posso até estar velho, mas sou tudo no que sou, nada além.

Um abraço do seu amigo,
Simão de Azevedo.

terça-feira, 7 de junho de 2011

A casa dos três

Vivem na mesma casa, Tito, Maranhão e Cascavel. Todos velhotes e bem cansados. A casa fica numa cidade não muito grande, mas nem tão pequena. Um pouco rural, muito mais urbana. A cidade é calma e todos não se conhecem ou conhecem pouco demais de cada um.
Tito fala demais. Era casado, depois de 23 anos, a mulher o deixou. Sempre falou que o Tito fala demais. Faz de menos. Ela ficou com o carteiro. Advogou, nos áureos tempos da justiça.
Atualmente, tudo o que Tito fala, ninguém escuta. Ele fala até o Maranhão enfadar. Fala sem parar, sempre caminhando de um lado para o outro da casa. De tanto falar, esquece que tem louça pra lavar e a pia está abarrotada.
Maranhão passa o dia na televisão. Escuta tudo que o Tito fala. Bem, escuta sem ouvir, se é que tu entende a mim. Escuta até dormir. Assiste a televisão, sem ver realmente. É viúvo e muito taciturno. Foi médico e não sente falta daquele tempo. Quando fala, é pra calar o Tito com uma frase impactante e com pretensão de ser da maior sabedoria.
Cascavel faz contas no papel e na calculadora. Está sempre preocupado com o orçamento da casa. Não casou. Teve namoradas a fio, depois, enjoou. Não sei bem qual foi a profissão dele. Hoje, ele é um aposentado nato.
Sente falta do Januário. Está na mesma sala dos outros dois, só que nunca parece estar realmente presente. Ou parece estar a par de tudo, com aquele ar superior dos que nada dizem.
Os três. Os três de sempre.

domingo, 5 de junho de 2011

Impressões de Januário sobre as coisas da vida

Impressão 11

Januário viu e ali ficou. Depois de um longo silêncio e ela já ter ido:

- É que eu sorrio mais, hoje.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Beijo

Dou-te um beijo inesperado.
- Vais embora?
- Não. É um beijo "porque sim".

Lívia Pires

Para Simão de Azevedo

Meu querido e estimado Simão,

Sou eu, Lívia. Escrevo de um lugar criado pra ficar só com o mundo. Vejo toda a terra até onde os olhos podem enxergar. É uma vista exuberante. Muito verde até o fim.
Estou a pensar. Pensar sem parar. Ando a pensar em nós dois e a que ponto chegamos. Acho que me acostumei tanto em te ter, que posso te ter no momento que eu quiser. Só que agora, ando confusa. E acho que estou a te perder, de alguma forma. Devo estar pensando demais e fazendo de menos ou vice-versa.
Passo as tardes jogando pedrinhas daqui do alto, imaginando qualquer coisa.
Simão, eu te amo! Penso em ti a todo momento...ou quase todo.
Eu te amo, mas não te quero mais. E me perdoe a força desta frase tão crua. Falo com o mais apertar no meu coração. É o que sinto e isso não me alivia. Estou triste, assim como tu.
Tenho saudades de ti, de nós...não quero mais. Gosto das nossas histórias, da tua risada, do teu jeito sério de falar das coisas amenas e da forma amena de falar das coisas sérias.
Sempre acho que tu quer dizer algo quando escreve, apesar de tu repetir enfaticamente que é "uma perda de tempo". Meu filho, tu é uma das pessoas mais extraordinárias que conheço. Por isso, não me entendo. Não entendo qual é o motivo. Sei que é o que sinto...
Por favor, não venha atrás de mim. Vai ser pior pra nós dois. Tentemos, a partir do dia que a tristeza for embora, viver! Escreva! Faça o mundo te conhecer. Pare de lamentar. Seja feliz! Eu te amo feliz! Eu quero te ver feliz. E acho que comigo, não fica mais como era. Hoje, sou uma doce recordação, nada mais.
Vai! Vive, Simão! Eu espero por isso.

Um beijo,
Te amo,
Lívia Pires.