Vivem na mesma casa, Tito, Maranhão e Cascavel. Todos velhotes e bem cansados. A casa fica numa cidade não muito grande, mas nem tão pequena. Um pouco rural, muito mais urbana. A cidade é calma e todos não se conhecem ou conhecem pouco demais de cada um.
Tito fala demais. Era casado, depois de 23 anos, a mulher o deixou. Sempre falou que o Tito fala demais. Faz de menos. Ela ficou com o carteiro. Advogou, nos áureos tempos da justiça.
Atualmente, tudo o que Tito fala, ninguém escuta. Ele fala até o Maranhão enfadar. Fala sem parar, sempre caminhando de um lado para o outro da casa. De tanto falar, esquece que tem louça pra lavar e a pia está abarrotada.
Maranhão passa o dia na televisão. Escuta tudo que o Tito fala. Bem, escuta sem ouvir, se é que tu entende a mim. Escuta até dormir. Assiste a televisão, sem ver realmente. É viúvo e muito taciturno. Foi médico e não sente falta daquele tempo. Quando fala, é pra calar o Tito com uma frase impactante e com pretensão de ser da maior sabedoria.
Cascavel faz contas no papel e na calculadora. Está sempre preocupado com o orçamento da casa. Não casou. Teve namoradas a fio, depois, enjoou. Não sei bem qual foi a profissão dele. Hoje, ele é um aposentado nato.
Sente falta do Januário. Está na mesma sala dos outros dois, só que nunca parece estar realmente presente. Ou parece estar a par de tudo, com aquele ar superior dos que nada dizem.
Os três. Os três de sempre.
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