Ao amigo Mascarenhas,
Saí da ilha, fiquei uns tempos no Senegal. Procurando-a. A minha ilha querida de toda a vida. Quando achei, tudo que tive foi uma mensagem: "Viva, Simão! Viva!". Percebi o quanto incomoda esta idolatria.
Precisava, então, sair do Senegal, não voltar à ilha querida e deixar São Tomé no passado.
Perambulei. Passei pelos dois desertos deste grande continente até chegar numa montanha enorme, onde parece ser mais frio que Londres, a qual chamam-na de Lesoto. Nunca havia escutado falar deste país. Saí de lá, o frio não me apetece. Fui um pouco mais ao sul...
Serpenteei as mais perigosas trilhas e deparei-me com um enorme rinoceronte. Não fazes ideia da magnitude desta besta.
Visitei o cabo. O lugar dos nossos herois. O lugar onde fui às lágrimas. Aquele lugar que tanto ceifou vidas sedentas por descobertas em nome del rei, em nome de Portugal, e, acima de tudo, em nome da humanidade!
Desisti do continente, voltei à ilha. Mas, uma nova ilha, Madagascar. Não entendo muito das coisas que são belas e nem sei se há um critério para estratificá-las, mas é decerto o lugar mais belo da terra.
Vem chegando a minha data, o meu novo ano chega. Vou a 36 e sinto-me ir pra além mais. Não sei quando envelheci e se, de fato, estou velho. Só não me sinto mais naquela juventude aventureira. Mesmo que esteja a andar por aí.
Acho que paro nesta ilha por uns dias. Tenho a melhor vista do mundo quando olho no horizonte! Estou tentando seguir à risca a mensagem de quem sempre amei. Nada acontece no novo sem eu perceber direito.
Estou entre o perdão e a loucura. Perdoo a quem me magoou profundamente, não havia maldade naquilo. Perdoo, pois já não há rancor, que vale nada.
É só a loucura que não me deixa acomodar, afinal, o que sou pra ela nesse instante? O que ela é pra mim? Aquela ilha deixava-me parvamente louco, com certa lucidez lunática. Fui...
Vou viver, Mascarenhas, acho que está na hora d'algo acontecer na minha vida. Começo a repensar aquela minha teoria de que na vida nada acontece. E não sou mais aquela perda de tempo. Tenho vontade de crescer, produzir e aprender. Posso até estar velho, mas sou tudo no que sou, nada além.
Um abraço do seu amigo,
Simão de Azevedo.
Sem comentários:
Enviar um comentário