A festa corria bem até quando começar o torneio de futebol. Acho que estávamos todos os meninos de todas as ruas da cidade. Formaram-se quatro times com 18 em cada. E todos foram à loucura, quando o Bolinha - o que organizava e intermediava todas as ações daquele dia dos meninos de 6, 7 e 8 anos no máximo - lançou, uníssono, a regra: "2 gols ou 10 minutos. Quem vencer vai pra final!"
E eu, claro, o primeiro a ser escolhido pelo meu primo. Ele tinha um ano a mais que eu. E isso é uma vida, para duas crianças. Tinha-me ele como um filho, adotava-me e protegia-me de todos os outros mais velhos, amigos dele e eu até saboreava um ar orgulhoso de fazer parte da turma dos que tem 8 anos. Apesar de aparentar ter 5 ou 6, na altura dos meus últimos meses de 7 anos.
O time, confesso eu, era o melhor do torneio. E a primeira partida... era contra um outro punhado de meninões pequenos e grandes verdadeiramente menos habilidosos que nós.
Meu primo envergava aquela camisa nova, a tarde começava a terminar e o torneio tinha que começar. Levamos o primeiro gol logo no primeiro chute de um gordinho bem branco e com cabelos nos olhos... indignação total! Com o Bolinha, com o goleiro, com o gordinho. Afinal, nós éramos os melhores. Melhores em tudo.
O meu primeiro toque na bola foi quando já estava 0-1. E não foi bem um toque. A bola passou pelo pequenino espaço entre o meu pé e a grama, indo morrer no coqueiro... onde era a linha lateral imaginária. Mais um urro e quase fui engolido vivo. Meu primo, conseguiu, de alguma forma, me blindar e nos organizamos.
Perto do fim, eu domino a bola outra vez, a segunda. Desta vez, consegui deixá-la junto do meu pé. E passei rapidamente a bola ao meu primo.
Oh, aquela camisa 10 deu o maior chute de todos os tempos. Impecavelmente passando por entre as cadeiras e o goleiro que sustentavam aquela nossa derrota eminente. Empatamos.
Acabou os 10 minutos. E o Bolinha disse que daria mais dois minutos de prorrogação. Nada. 1-1. E fomos às últimas consequências, os pênaltis. Cada time escolheu seu batedor.
O primeiro foi do time deles, o gordinho que tinha feito o gol, e acho que o nosso goleiro não entendeu o que era para fazer. Logo, gol deles.
Então, lá vai meu primo. Dono da bola, dono do time, o autor do gol de empate, com a camisa mais querida do Brasil, a 10 do Zico.
Ele bateu e a bola foi parar na outra casa.
E eu, com toda aquela sinceridade inerente aos meus sete anos:
- Cara, tu é muito ruim.
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