Um tiro no pé. Quando viu, tinha o pé ensanguentado. "Mas por que raios eu fui tomar este caminho?" - pensava no meio daquele sangue todo.
Doía, não tinha o que fazer. Deitou ao chão e ficou esperando o tiro fatal. O que ouviu daí, foi passos em disparada. Estava só. E rezava pra canto santo, prometia qualquer centavo de honestidade e agarrava qualquer esperança. O pé doía e parecia ter chegado ao cume da dor, quando vinha mais outra sensação da dor aguda no pé, do tiro que empoçou o chão.
Um tiro no pé. E o mundo dele tinha uma perspectiva nova. Uma angustiante vontade de voltar no tempo, uma sede de vingança pelo infame que meteu a bala no seu pé, uma dor infernal, um desmaio e nada podia fazer, o pé doía. Tinha um tiro no pé.
Lembrou de como iria contar em casa pra mulher. De onde vinha? Não podia. Factuava uma nova mentira, o pé doía, o orgulho continuava. Se dissesse de onde vinha, nada teria. Era melhor dizer nada e entrar com aquele pé em casa mesmo. Às perguntas não responderia. Diria que o pé doía.
"Levei um tiro no pé, nada mais."
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