domingo, 25 de dezembro de 2011

Atônito

Pela manhã, fui tomar o café da manhã no restaurante do hotel. Quando voltei ao quarto, Osvaldo não estava, muito menos as coisas dele.
Ao lado do dinheiro das diárias, havia um bilhete:
"Prezado Simão,
Chegou a hora. Eu parto só. Vou me esconder do mundo. Quem quiser me achar, que me procure."
E ponto final. Nem uma assinatura, nem uma despedida.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Andanças por aí...

Estamos de férias. Nada de salvar vidas. Passeávamos eu e Osvaldo sem muito intento e num calor divisível.
Quando num caminhão tinha escrito: "A tua inveja é o meu sucesso".
Prontamente, Osvaldo protestou:
- E se eu não tiver inveja?!

No bar

Cheguei num desses bares, que há em todos os lugares do mundo. Quis ficar um pouco longe de Osvaldo, quis conversar com alguém que seja humano. Ou alguém que pareça ser. Afinal, estou mudo há tanto...
O homem por detrás do balcão não tinha tanta simpatia e tudo o que consegui foi um par de resmungos e dois copos de pinga.
O que mais eu queria?

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

No Escritório - 07

No escritório, trabalhávamos somente nós os dois, eu e Eliézer.
Uma manhã, disse:
_ Hoje dancei em frente a um espelho.
_ Ok.
_ Da cintura pra baixo.
_ Happy feet!

E sapateei por baixo da mesa do escritório.

No Escritório - 06

No escritório, trabalhávamos somente nós os dois, eu e Eliézer.
Uma manhã, Eliézer começou:
_Eu vou ser franco. Quando eu morrer eu quero estar morto. Apenas isso.
_Eliézer, isso escrito na lápide ou no perfil do Facebook ficaria sensacional.

Eliézer não pareceu achar piada.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Para todas as pessoas que conheço

Outro dia, sentei em frente ao computador e quis escrever sobre alguém especial.
Não consegui. Não consigo pensar em alguém sem pensar em outro. Uma pessoa se liga à uma história, que leva a lembrança de mais uma pessoa.
Todas as pessoas que conheci, até hoje, me impressionam.
Talentos inatos, que vêm apenas com cada qual delas. Tenho a lembrança de cada uma. Cada uma me impressiona.
Conheci pessoas que conseguiram ver algo de feliz até no momento mais triste.
Soube que magoei outras e ainda assim, elas mantiveram um pacto comigo. Apesar de não fazer mais nenhum sentido. E, sem eu saber, trabalharam para que eu continuasse íntegro.
Houve dias que algumas pessoas testaram o meu limite. E não sei se, de fato, fiz o que elas queriam. Mas, apenas o fato de colocarem no meu limite, eu as estimo.
Todas elas procuram fazer bem, do jeito que elas entendem. Às vezes, me atrapalha. Às vezes, me ajuda. Em todas elas, fazem parte da minha vida.
São seres humanos, como eu. São todos uma ideia de perfeição, tão perfeitos... até nos seus defeitos.
São elas que me fazem desejar viver ainda mais.
Obrigado por existir.

Ano novo, ano que nunca existiu.

Tive um dia, duas semanas e três meses.
Um ano sem contagem do tempo, dos dias, das horas.
Quando chegar o último dia do ano, quando terminar o dia, virá mais um.
Um, outro, como todos os outros que passou: Um outro dia diferente do anterior.
Um novo dia diferente de todos: haverá dia e haverá noite.
Que ilusão a minha, achar que amanhã serei outro apenas por causa de um ano que muda o meu calendário de cabeceira.
Quando terminar esse ano, prometo não contar mais os anos que passo. Assim, não tenho esse cansaço, essa melancolia de ficar lembrando de tudo.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

As conversas com Osvaldo

Eu não sei quantos locais já fui, sei que faz tempo que estou sem ser onde quero...
Acontece que estou com Osvaldo, o salvador de vidas. E isso justifica toda a minha ausência.
Estávamos em algum lugar perto da Ásia.
Noite já alta.
Osvaldo, salvador que é, assistia mais uma enfermidade da vila. Não discursava há tempos. Apenas atendia e nada dizia. Eu não conseguia nem dialogar com ele, apenas frases triviais e rotineiras. Quando acabou de salvar mais uma vida, foi ao pátio e fui junto, carregando a sua maletinha [que nunca abri].
Parou. Olhou para o céu. Com mais estrelas do que antes. Com mais estrelas do que nunca.
- É lindo! - disse.
Concordei com um menear.
- É lindo! É incrível!... - repetia.
Voltei os olhos para o céu e fiquei pasmo. Estava o céu de sempre... intocável. Incrivelmente negro e banhado, eram tantos pontos azuis e brancos...
Houve mais um momento de silêncio. Desta vez, interrompido mais cedo que os últimos dez dias, Osvaldo falou:
- Estou perplexo. O lugar mais bonito do mundo é o único que nunca vou visitar.
E apontou para o céu, como se fosse um destino provável e ao mesmo tempo improvável.
Eu não compreendi. Logicamente, calei-me, porque quando o salvador fala, eu nada contesto.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

No Escritório - 05

No escritório, trabalhávamos somente nós os dois, eu e Eliézer.
Uma manhã, cantei baixinho:
_De tanto levá, frechada do teu oiá...
_Eu já ouvi essa música, disse Eliézer.
_É possível. Grande canção do Adoniran Barbosa.
_Não sei quem é.
_Imortalizada na voz da Elis.
_Não sei quem é.

Já sei qual vai ser a prenda de Natal de Eliézer.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

No Escritório - 04

No escritório, trabalhávamos somente nós os dois, eu e Eliézer.
Uma manhã, sem muito o que fazer, perguntei:
_E se contratássemos alguém para vir trabalhar connosco?
_Alguém quem?
_Alguém que nos pudesse trazer notícias do mundo lá de fora...
_Um rádio?
_Um contínuo!
_Ó sim, um contínuo.

Eliézer estúpido.

No Escritório - 03

No escritório, trabalhávamos somente nós os dois, eu e Eliézer.
Uma manhã, ao chegar, vejo Eliézer a fazer-se de malabarista:
_Mas o que é isso?
_O quê?
_Este escritório é um circo?
_Agora é. O palhaço acaba de chegar.

Sentei-me.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

No Escritório - 02

No escritório, trabalhávamos somente nós os dois, eu e Eliézer.
Uma manhã, cheio de dor de cabeça, perguntei:
_Tens aspirina?
_Não. Nunca precisei.
_E o que fazes quando tens dor de cabeça?
_Tento esquecê-la. Funciona sempre.

Funcionou.

No Escritório

No escritório, trabalhávamos somente nós os dois, eu e Eliézer.
Uma manhã, cheguei 15 minutos atrasado:
_E então?
_E então o quê? respondi.
_Isto são horas?
_Tive um problema.

Não era a resposta que Eliézer esperava.
_Tudo bem.
Não me interessava nada pelo que Eliézer esperava.
_Ótimo.