Passeavam pela praça principal, devagar e sem muito o que conversar, já que o Tito falava sem parar:
- Esta cidade é tão suja e feia, tem uma preguiça em se ajeitar. Olha. Vê aquele banco ali? desde que me tenho por gente, aquele banco está com as madeiras frouxas e não há quem consiga sentar. Além de não haver uma árvore. Vê aquele prédio!? Não cai por milagre. E esse esgoto...
Cascável de cabeça baixa, taxeando a calçada, contando o número de ladrilhos. O Maranhão parecia estar sempre dois passos atrás, aonde o Tito apontava, ele olhava e nada dizia. Tito continuava:
- ...lembro uma vez que fui à Londres, a cidade foi incendiada, renovaram. A cidade foi bombardeada e o que fizeram? Uma cidade inteira toda renovada e é vibrante a arquitetura! Tudo em menos de cem anos. Imagina se tem uma guerra e esta cidade se torna alvo do inimigo, bombardeada...
- Tito - Maranhão tentava interromper, desta vez.
- ...acho que a cidade ficava pela consequência dos bombardeios: toda em ruínas...
- Tito!
- O que foi, homem?
- Nesta cidade, nunca acontecerá coisa alguma. Fica tudo por isso mesmo.
E Tito não conseguiu mais argumentar. Maranhão tinha razão, apesar de haver na expressão de Tito um ar de contestação. Como se aquela constatação roubasse o seu raciocínio. Foi quando Cascável parou:
- Nossa! Que silêncio...perdi as contas.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Impressões de Januário sobre as coisas da vida e todo o resto
Impressão 5
"Sob um novo olhar, resolvi que a vida não é tão rápida na natureza. Os dias seguem uma rotina, mudam-se as estações brandamente e não vê-se bem a rotina a tomar outra dinâmica. Sempre num ritmo, que difere, sem perceber.
Outro dia, recitava parágrafos daquele relatório que tive que entregar em tempo curto. Devo ter entrado em colapso e não sei pensar ainda. Às vezes, o mais feliz do homens por não ter mais aquela pressa urbana. Em outras tantas, vejo-me fora do contexto e não vejo-me tão feliz, como pensei que fosse ser a vida sem a pressa. E ela nem é tão rápida assim..."
Januário, num fim de tarde de outubro, às costas duma serra e, na taça, dois goles do tinto.
"Sob um novo olhar, resolvi que a vida não é tão rápida na natureza. Os dias seguem uma rotina, mudam-se as estações brandamente e não vê-se bem a rotina a tomar outra dinâmica. Sempre num ritmo, que difere, sem perceber.
Outro dia, recitava parágrafos daquele relatório que tive que entregar em tempo curto. Devo ter entrado em colapso e não sei pensar ainda. Às vezes, o mais feliz do homens por não ter mais aquela pressa urbana. Em outras tantas, vejo-me fora do contexto e não vejo-me tão feliz, como pensei que fosse ser a vida sem a pressa. E ela nem é tão rápida assim..."
Januário, num fim de tarde de outubro, às costas duma serra e, na taça, dois goles do tinto.
domingo, 17 de outubro de 2010
Beyoncé
Estavam na sala os três de sempre: Maranhão no sofá assistindo os videoclipes, Cascavel sentado na mesa cheio de contas e de papeis e o Tito falando ou no telefone ou com um dos dois sem ser ouvido.
Na televisão, passa o videoclipe da Beyoncé. No telefone, a mulher escuta, enfadada, as lamúrias do Tito. Na mesa, a calculadora apita e a caneta no papel.
O Tito desliga o telefone, vê a tv.
- Essa Beyoncé é linda... - e vai discorrendo sobre a beleza dela, o Cascaevel levanta os olhos e espicha o pescoço...a ver a Beyoncé, enquanto o Tito fala. O Cascavel também diz:
- Esta mulher!...é impossível ser de verdade, que negra linda! - afora outro elogio que faz, nada cordial, às curvas do quadril dela.
O Maranhão, calado, sai do silêncio e diz, em tom dogmático:
- A Beyoncé era pra ser uma mulher pública...- silêncio - Todo homem devia ter o direito de ter uma mulher destas, pelo menos, uma vez na vida.
E "all the single ladies..." a tocar no som da tv, enquanto os três assistiam atentamente àquela morena e suas curvas. "Deliciante".
Na televisão, passa o videoclipe da Beyoncé. No telefone, a mulher escuta, enfadada, as lamúrias do Tito. Na mesa, a calculadora apita e a caneta no papel.
O Tito desliga o telefone, vê a tv.
- Essa Beyoncé é linda... - e vai discorrendo sobre a beleza dela, o Cascaevel levanta os olhos e espicha o pescoço...a ver a Beyoncé, enquanto o Tito fala. O Cascavel também diz:
- Esta mulher!...é impossível ser de verdade, que negra linda! - afora outro elogio que faz, nada cordial, às curvas do quadril dela.
O Maranhão, calado, sai do silêncio e diz, em tom dogmático:
- A Beyoncé era pra ser uma mulher pública...- silêncio - Todo homem devia ter o direito de ter uma mulher destas, pelo menos, uma vez na vida.
E "all the single ladies..." a tocar no som da tv, enquanto os três assistiam atentamente àquela morena e suas curvas. "Deliciante".
terça-feira, 5 de outubro de 2010
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Carta ao Januário
Caro Januário,
A coisa anda pela mesma. Correria. Aconteceu que soube que tu parou. É verdade? Agora é de ficar a contemplar, sem nada a fazer. Aonde foi parar aquela pressa? E por quê?
Ando com os encargos de sempre, sem ter razão, de qualquer forma. Acho que tu já me vê como se olha o passado ou reflexo do que tu já foi. Penso quase nunca, mas hoje, ao saber no café a razão do teu sumiço, pensei.
E da mesma forma que tu não teve motivos pra parar, eu não tenho motivos pra continuar nesta pressa. Nem pra parar. Eu não penso mais.
Ando sem parar, na verdade, corro. Com pressa...o tempo todo. Tempo já não existe mais. Dizem que fiz 37 anos outro dia, eu não vi.
Tenho que ir.
Fiquei curioso: como é a vida contemplativa? E como está teu avô, o seu Teodoro? Soube que não esteve bem...
Saudações do teu amigo,
Cascavel.
A coisa anda pela mesma. Correria. Aconteceu que soube que tu parou. É verdade? Agora é de ficar a contemplar, sem nada a fazer. Aonde foi parar aquela pressa? E por quê?
Ando com os encargos de sempre, sem ter razão, de qualquer forma. Acho que tu já me vê como se olha o passado ou reflexo do que tu já foi. Penso quase nunca, mas hoje, ao saber no café a razão do teu sumiço, pensei.
E da mesma forma que tu não teve motivos pra parar, eu não tenho motivos pra continuar nesta pressa. Nem pra parar. Eu não penso mais.
Ando sem parar, na verdade, corro. Com pressa...o tempo todo. Tempo já não existe mais. Dizem que fiz 37 anos outro dia, eu não vi.
Tenho que ir.
Fiquei curioso: como é a vida contemplativa? E como está teu avô, o seu Teodoro? Soube que não esteve bem...
Saudações do teu amigo,
Cascavel.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Resolvido o mistério, sem muito o que fazer...
Cascavel resolvia os papeis da casa, enquanto Maranhão ficava na televisão e o Tito, como sempre, falava [e bem alto]...
- Mas, que há-de vir agora? Logo eu que pensei ficar sempre com ela. Comprei até os eletro e as panelas. Que contas são estas, Cascável? Por que não me alenta? Ah...estas amizades que tenho, só incentivam coisa alguma. E o Maranhão? Me escuta?...ela me escutava, sabia? Adorava ouvir minha épicas passagens acerca dos rios que dão no mar. E também das canas que acabavam no horizonte. E fascinava...ah, estou só! Estou eu e meus pensamentos, indo a canto nenhum...
- Ah, tolo Tito. - em tom enfadado, Maranhão interrompia o Tito - Cala a boca. Todo o rio desce ao mar. Que graça tem as canas na paisagem? E sabe de outra, que acaba com qualquer mistério das tuas lamuriosas perguntas?
"Qual?" - pensou o Tito
- Sim...- e o Cascavel já escutava também ao Maranhão.
- Qual? - perguntou o Tito, ainda sem conseguir articular o maxilar.
- Todos vão embora. O rio, a cana e a namorada. Pelo simples andar dos fatos.
Cascavel voltou aos papeis. Tito calou e sentou ao lado do Maranhão pra ver a corrida de carros. Maranhão cruzou os braços.
- Mas, que há-de vir agora? Logo eu que pensei ficar sempre com ela. Comprei até os eletro e as panelas. Que contas são estas, Cascável? Por que não me alenta? Ah...estas amizades que tenho, só incentivam coisa alguma. E o Maranhão? Me escuta?...ela me escutava, sabia? Adorava ouvir minha épicas passagens acerca dos rios que dão no mar. E também das canas que acabavam no horizonte. E fascinava...ah, estou só! Estou eu e meus pensamentos, indo a canto nenhum...
- Ah, tolo Tito. - em tom enfadado, Maranhão interrompia o Tito - Cala a boca. Todo o rio desce ao mar. Que graça tem as canas na paisagem? E sabe de outra, que acaba com qualquer mistério das tuas lamuriosas perguntas?
"Qual?" - pensou o Tito
- Sim...- e o Cascavel já escutava também ao Maranhão.
- Qual? - perguntou o Tito, ainda sem conseguir articular o maxilar.
- Todos vão embora. O rio, a cana e a namorada. Pelo simples andar dos fatos.
Cascavel voltou aos papeis. Tito calou e sentou ao lado do Maranhão pra ver a corrida de carros. Maranhão cruzou os braços.
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Impressões de Januário sobre as coisas da vida e todo o resto
Impressão 4
Numa tarde destas, que custa a terminar, Januário ficava sentado na varanda ao lado do Seu Teodoro.
O sol descia naquele lado onde sempre é mais verde e o céu tinge-se de azul e laranja.
O avô calado, como sempre, parecia estar em outro mundo. Enquanto Januário perscrutava aquelas cores, que não via quando ainda corria. Agora, estava lá.
O silêncio foi quebrado pelo avô:
- Ah, gostei de você, sabe...
E Januário, pego repentinamente, pensou que estava a sonhar. Há tempos que ele desconfiava que avô nem lembrava mais quem era o Januário, neto dele. Muito pela ausência do neto, muito pelo avançar da idade do velho. E também pela falta de qualquer empatia que começara não me lembro quando.
- É, vovô?
Seu Teodoro sorriu:
- Você estava ótimo naquele programa!
E Januário voltou-se à contemplar aquele laranja-azul, com uma sombra no seu rosto...
"Me enganei." - pensou.
Numa tarde destas, que custa a terminar, Januário ficava sentado na varanda ao lado do Seu Teodoro.
O sol descia naquele lado onde sempre é mais verde e o céu tinge-se de azul e laranja.
O avô calado, como sempre, parecia estar em outro mundo. Enquanto Januário perscrutava aquelas cores, que não via quando ainda corria. Agora, estava lá.
O silêncio foi quebrado pelo avô:
- Ah, gostei de você, sabe...
E Januário, pego repentinamente, pensou que estava a sonhar. Há tempos que ele desconfiava que avô nem lembrava mais quem era o Januário, neto dele. Muito pela ausência do neto, muito pelo avançar da idade do velho. E também pela falta de qualquer empatia que começara não me lembro quando.
- É, vovô?
Seu Teodoro sorriu:
- Você estava ótimo naquele programa!
E Januário voltou-se à contemplar aquele laranja-azul, com uma sombra no seu rosto...
"Me enganei." - pensou.
domingo, 15 de agosto de 2010
Impressões de Januário sobre as coisas da vida e todo o resto
Impressão 3
Naquela madrugada, acordou e viu pela janela do quarto [era o único momento em que parava]. A vista, ainda escura, mal podia decifrar o espetáculo. Os ouvidos, sim. Escutou aquela escuridão, apreciando as sílabas dos cantos daquela natureza que passara a noite acordada e as outras sílabas desta natureza que ia acordando junto à ele.
Quando Januário parou naquela madrugada, contemplou. E já especulava algumas notas a cantar...
Naquela madrugada, acordou e viu pela janela do quarto [era o único momento em que parava]. A vista, ainda escura, mal podia decifrar o espetáculo. Os ouvidos, sim. Escutou aquela escuridão, apreciando as sílabas dos cantos daquela natureza que passara a noite acordada e as outras sílabas desta natureza que ia acordando junto à ele.
Quando Januário parou naquela madrugada, contemplou. E já especulava algumas notas a cantar...
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Conto de Fadas
Do alto da última torre do castelo imenso...
Tem a donzela de todos os devaneios,
Com a promessa de sempre
e a beleza estapafúrdia.
Ela nem lembra do mundo,
Ele só a quer! [como sempre a quis]
Não pelo poder, tampouco pela beleza dela.
Havia algo nela.
Além dos dois gigantes e do furioso dragão.
Não estava disposto ao combate,
Tinha em mente a companhia dela,
E não lembraria bem das armadilhas...
Estupidamente, caminhava pela lama do pântano
com o bobo olhar dos desavisados,
Havia algo nela.
Além do coachado dos sapos extasiados.
Não via problema naquela umidade com fedor,
Tinha em mente a companhia dela,
E jamais viria a esquecer o calor que tinha...
A sua espada não era bem aquela digna,
Tem a integridade de mantê-lo vivo...
Devido às circunstâncias.
Afinal, tinha dois gigantes, um dragão [furioso]
e a pastosa lama cheia de sapos.
Havia algo nela.
E ele estava pronto às novas decepções e ilusões.
Seria príncipe dela?
Quem dera...
O que mais queria era a companhia dela.
E viver feliz para sempre.
Tem a donzela de todos os devaneios,
Com a promessa de sempre
e a beleza estapafúrdia.
Ela nem lembra do mundo,
Ele só a quer! [como sempre a quis]
Não pelo poder, tampouco pela beleza dela.
Havia algo nela.
Além dos dois gigantes e do furioso dragão.
Não estava disposto ao combate,
Tinha em mente a companhia dela,
E não lembraria bem das armadilhas...
Estupidamente, caminhava pela lama do pântano
com o bobo olhar dos desavisados,
Havia algo nela.
Além do coachado dos sapos extasiados.
Não via problema naquela umidade com fedor,
Tinha em mente a companhia dela,
E jamais viria a esquecer o calor que tinha...
A sua espada não era bem aquela digna,
Tem a integridade de mantê-lo vivo...
Devido às circunstâncias.
Afinal, tinha dois gigantes, um dragão [furioso]
e a pastosa lama cheia de sapos.
Havia algo nela.
E ele estava pronto às novas decepções e ilusões.
Seria príncipe dela?
Quem dera...
O que mais queria era a companhia dela.
E viver feliz para sempre.
domingo, 8 de agosto de 2010
Impressões de Januário sobre as coisas da vida e todo o resto
Impressão 2
Januário tomou uma resolução.
Nunca mais vai dar músicas suas para nenhuma delas.
Elas vão embora e levam as músicas e Januário fica sem ter o que cantar.
Januário tomou uma resolução.
Nunca mais vai dar músicas suas para nenhuma delas.
Elas vão embora e levam as músicas e Januário fica sem ter o que cantar.
domingo, 1 de agosto de 2010
Impressões de Januário sobre as coisas da vida e todo o resto
Impressão 1
Januário não se explicava mais. Escovava os dentes com pressa. Calçava-se sem amarrar os cadarços e passava a mão nos cabelos. Pegava as chaves sem ver e comia sem desgustar. Tomava o último gole do copo [ou nem isso] e saía à rua correndo. Corria sem parar, sem pensar, sem andar. Corria! Desviava dos buracos em milésimos e alcançava a outra esquina em questão de segundos. O mundo ao seu redor era parado e ele...corria.
Januário não se explicava mais. Escovava os dentes com pressa. Calçava-se sem amarrar os cadarços e passava a mão nos cabelos. Pegava as chaves sem ver e comia sem desgustar. Tomava o último gole do copo [ou nem isso] e saía à rua correndo. Corria sem parar, sem pensar, sem andar. Corria! Desviava dos buracos em milésimos e alcançava a outra esquina em questão de segundos. O mundo ao seu redor era parado e ele...corria.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Quando ela foi embora
Quando ela foi embora, as coisas dela ainda ficaram. Ela foi e deixou espalhadas pela casa as vidinhas que dava aos objetos que usava.
Ele chorava, sem palavras e sem som. Deixava a lágrima cair e não lutava. O sofá, ah..o sofá. A cama, ah...a cama. A cozinha, ah...a cozinha. Tudo ganhava uma poesia melancólica. E o rádio tocava o mesmo refrão. O mundo girava em torno dela, dele, deles dois...
Ela foi. Disse pra esquecê-la como se pede pra trazer o pão no fim da tarde. Aonde foi? Ele ainda ouviu um soluço enquanto ela esperava o elevador chegar, enquanto ele, atrás da porta, não lutava contra a lágrima. Aceitava, feria-se, mas aceitava. Resignado, arrependeu-se do mundo que até agora acreditara.
De que adianta lutar agora, hein? Nada vai mudar a partir deste momento. Uma hora, ele resolve que vai reinventar o mundo. Na outra, ele deseja tudo de volta...
Enquanto, ele se perdia nos pensamentos, nas intrigas, nas lembranças...ela estava com o olhar mais perdido dela. Ela, de frente ao espelho do elevador, não conseguia se ver. Tudo embaçava, tudo alagava...nem notou que havia mais alguém com ela. Quando chegou à rua, hesitou. Depois, andou mais um pouco e hesitou outra vez. E nesse caminhar e hesitar ia chegar à parada mais próxima. Ia pra casa, sem história pra contar. Acabou.
Ele chorava, sem palavras e sem som. Deixava a lágrima cair e não lutava. O sofá, ah..o sofá. A cama, ah...a cama. A cozinha, ah...a cozinha. Tudo ganhava uma poesia melancólica. E o rádio tocava o mesmo refrão. O mundo girava em torno dela, dele, deles dois...
Ela foi. Disse pra esquecê-la como se pede pra trazer o pão no fim da tarde. Aonde foi? Ele ainda ouviu um soluço enquanto ela esperava o elevador chegar, enquanto ele, atrás da porta, não lutava contra a lágrima. Aceitava, feria-se, mas aceitava. Resignado, arrependeu-se do mundo que até agora acreditara.
De que adianta lutar agora, hein? Nada vai mudar a partir deste momento. Uma hora, ele resolve que vai reinventar o mundo. Na outra, ele deseja tudo de volta...
Enquanto, ele se perdia nos pensamentos, nas intrigas, nas lembranças...ela estava com o olhar mais perdido dela. Ela, de frente ao espelho do elevador, não conseguia se ver. Tudo embaçava, tudo alagava...nem notou que havia mais alguém com ela. Quando chegou à rua, hesitou. Depois, andou mais um pouco e hesitou outra vez. E nesse caminhar e hesitar ia chegar à parada mais próxima. Ia pra casa, sem história pra contar. Acabou.
Ainda ecoando o verbo final na sua cabeça meio pesada, meio leve, ele levantou pra ir a qualquer canto. O estarrecimento cessara e foi assim que ele prometeu nunca mais amar alguém, sabendo que sempre amava alguém e que sempre ia ser assim. Talvez, a promessa mais fácil de quebrar porque já nascia descumprida.
As horas passaram até o dia virou. Não dormiam. Ele e ela, separados, ao mesmo tempo pensavam no que havia acontecido. O dia chegava e o trabalho tinha um fardo no meio do caminho. O trepidar da condução não incomodava como outrora, nem o calo das passadas apressadas e apertadas pelo salto dela. Havia algo melancólico no dia.
O dia passou e depois foi a semana, e foi o mês também. Nada mudava, a melancolia era rotina dele e dela. Entretanto, não faziam algum esforço pra sair de tal situação, afastando ambos do que havia de concreto e subexistindo à base das abstrações e conjecturas de ter feito qualquer coisa.
"Não acaba assim" - ele repetia ao fazer a barba pela manhã.
"Quando isso acabar..." - enquanto ela tomava banho, achando que a melancolia dos dias sem ele esvaía com o tempo.
Os momentos passavam, os feriados iam. Acabara toda aquele frenesi de mais um sábado à noite. Havia algo errado entre e para eles. Decerto.
As horas passaram até o dia virou. Não dormiam. Ele e ela, separados, ao mesmo tempo pensavam no que havia acontecido. O dia chegava e o trabalho tinha um fardo no meio do caminho. O trepidar da condução não incomodava como outrora, nem o calo das passadas apressadas e apertadas pelo salto dela. Havia algo melancólico no dia.
O dia passou e depois foi a semana, e foi o mês também. Nada mudava, a melancolia era rotina dele e dela. Entretanto, não faziam algum esforço pra sair de tal situação, afastando ambos do que havia de concreto e subexistindo à base das abstrações e conjecturas de ter feito qualquer coisa.
"Não acaba assim" - ele repetia ao fazer a barba pela manhã.
"Quando isso acabar..." - enquanto ela tomava banho, achando que a melancolia dos dias sem ele esvaía com o tempo.
Os momentos passavam, os feriados iam. Acabara toda aquele frenesi de mais um sábado à noite. Havia algo errado entre e para eles. Decerto.
domingo, 25 de julho de 2010
sábado, 24 de julho de 2010
domingo, 18 de julho de 2010
Plano de fuga
Imaginava o dia que saísse de lá. Como se fosse realmente sair de lá.
Imaginava como ficaria a cidade, como ficaria as amizades. Do que sentiria falta.
Planejava o dia da fuga. Quem iria se despedir e a quem se despediria. Ia chorar?
Não sentia nada pela terra que morava, de repente, parecia que a terra ia com ele e sentia falta dela.
Imaginou como desceria na nova terra. O que faria? Ia ter as amizades que teve de onde vinha, ficaria sozinho mais tempo ainda? Imaginava o que precisava levar nas malas.
Abria o guarda-roupa, ao mesmo tempo, que lançava o olhar ao quarto inteiro. Tão grande agora. Onde ia dormir? E que rotina teria?
Imaginava o dia que saísse de lá...como se fosse acontecer, mas não saía agora. No quintal, chovia. E tava na hora de dar ração ao Quínzimo. Outro dia fugia.
Imaginava como ficaria a cidade, como ficaria as amizades. Do que sentiria falta.
Planejava o dia da fuga. Quem iria se despedir e a quem se despediria. Ia chorar?
Não sentia nada pela terra que morava, de repente, parecia que a terra ia com ele e sentia falta dela.
Imaginou como desceria na nova terra. O que faria? Ia ter as amizades que teve de onde vinha, ficaria sozinho mais tempo ainda? Imaginava o que precisava levar nas malas.
Abria o guarda-roupa, ao mesmo tempo, que lançava o olhar ao quarto inteiro. Tão grande agora. Onde ia dormir? E que rotina teria?
Imaginava o dia que saísse de lá...como se fosse acontecer, mas não saía agora. No quintal, chovia. E tava na hora de dar ração ao Quínzimo. Outro dia fugia.
sábado, 10 de julho de 2010
Pelo caminho errado
Um tiro no pé. Quando viu, tinha o pé ensanguentado. "Mas por que raios eu fui tomar este caminho?" - pensava no meio daquele sangue todo.
Doía, não tinha o que fazer. Deitou ao chão e ficou esperando o tiro fatal. O que ouviu daí, foi passos em disparada. Estava só. E rezava pra canto santo, prometia qualquer centavo de honestidade e agarrava qualquer esperança. O pé doía e parecia ter chegado ao cume da dor, quando vinha mais outra sensação da dor aguda no pé, do tiro que empoçou o chão.
Um tiro no pé. E o mundo dele tinha uma perspectiva nova. Uma angustiante vontade de voltar no tempo, uma sede de vingança pelo infame que meteu a bala no seu pé, uma dor infernal, um desmaio e nada podia fazer, o pé doía. Tinha um tiro no pé.
Lembrou de como iria contar em casa pra mulher. De onde vinha? Não podia. Factuava uma nova mentira, o pé doía, o orgulho continuava. Se dissesse de onde vinha, nada teria. Era melhor dizer nada e entrar com aquele pé em casa mesmo. Às perguntas não responderia. Diria que o pé doía.
"Levei um tiro no pé, nada mais."
Doía, não tinha o que fazer. Deitou ao chão e ficou esperando o tiro fatal. O que ouviu daí, foi passos em disparada. Estava só. E rezava pra canto santo, prometia qualquer centavo de honestidade e agarrava qualquer esperança. O pé doía e parecia ter chegado ao cume da dor, quando vinha mais outra sensação da dor aguda no pé, do tiro que empoçou o chão.
Um tiro no pé. E o mundo dele tinha uma perspectiva nova. Uma angustiante vontade de voltar no tempo, uma sede de vingança pelo infame que meteu a bala no seu pé, uma dor infernal, um desmaio e nada podia fazer, o pé doía. Tinha um tiro no pé.
Lembrou de como iria contar em casa pra mulher. De onde vinha? Não podia. Factuava uma nova mentira, o pé doía, o orgulho continuava. Se dissesse de onde vinha, nada teria. Era melhor dizer nada e entrar com aquele pé em casa mesmo. Às perguntas não responderia. Diria que o pé doía.
"Levei um tiro no pé, nada mais."
sexta-feira, 9 de julho de 2010
E o meu nome tem Mascarenhas
Ele já só olhava pra ela, fitava e fitava...
Ela nem aí e nem lá, pensava nas frivolidades.
Ajeitava o cabelo, sem saber o que arrumava.
Cabelos cacheados, longos, que há tempos não eram cortados.
Passava o dedo entre os redemoinhos castanhos.
E gostava.
Gostava dos cabelos entre as coxas.
E os olhos dele não dançavam, fitavam-na...
Em meio aquele barulho
Coçando, cheirando, cacheando, castanhando, olhando, gemendo e gostando.
Dos cabelos entre as coxas
E ele imaginava o que cheirava, o que olhava, dava um ímpeto, que logo parava.
Só fitava.
Resolveu que não faria coisa alguma, era bom ver o que estava vendo. E viu.
Nenhum. E o meu nome é Simão.
[por António Mascarenhas e por Simão de Azevedo]
E continuava a acontecer nada.
Ele olhava pros lados e tudo não mudava.
E nada continuava a ser diferente.
E eram as mesmas pessoas.
Era tudo o mesmo.
E os mesmos sorrisos.
E agora que ele notou que tudo estava do mesmo jeito. Foi aí que tudo mudou...
Primeiro, ele sorriu, estarrecido, meio assustado com a mesmice que via.
E ainda lembrou que tinha que lavar a louça.
Desligou a televisão, ligou a luz e foi pra cozinha.
E continuava a acontecer nada.
Ele olhava pros lados e tudo não mudava.
E nada continuava a ser diferente.
E eram as mesmas pessoas.
Era tudo o mesmo.
E os mesmos sorrisos.
E agora que ele notou que tudo estava do mesmo jeito. Foi aí que tudo mudou...
Primeiro, ele sorriu, estarrecido, meio assustado com a mesmice que via.
E ainda lembrou que tinha que lavar a louça.
Desligou a televisão, ligou a luz e foi pra cozinha.
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